Coisas (4)

Carta aberta

Aos senhores astrólogos, “horoscopistas” (com o acordo ortográfico presumo que já haja disto), bruxos e pessoas que encarnam a princesa Diana,

Caríssimos,

Sem desprimor para com a vossa belíssima arte, devo informar-vos que a mesma me irrita mais que um batalhão de vendedores da Herbalife. É um facto, irritam-me os signos. Desde logo porque são obrigatórios. Detesto ser obrigado. A minha natureza rebelde impele-me imediatamente a ludibriar as obrigações socialmente impostas (a minha repartição de Finanças sabe do que falo).

Não me apetece ter um signo! Mas a sociedade, muito por Vossa influência, não mo permite. Não raras vezes sou confrontado com a interpelação: “És de que signo?” – ao que me apetece responder – “Não tenho!!”- ou -“Dei-o para a adopção”, “Perdi-o”, “ Deixei de pagar as prestações e vieram buscar-mo” - ou ainda o actual e bastamente credível - “ A ASAE apreendeu-mo”.

Claro que a minha interlocutora (e não coloco o substantivo no género feminino ao acaso. Coloco-o por duas razões. Em primeiro lugar porque, assumo-o com desassombro, o género feminino reúne toda a minha preferência e também porque, invariavelmente, esta questão é colocada por alguém do sexo feminino, na variante “fã histérica das manhãs da SIC”) responde, após uma breve pausa para digerir, um rotundo “Não sejas parvo!!” o que, quem me conhece sabe, exige da minha pessoa taxas de espírito de sacrifício e abnegação maiores que as necessárias para me tornar um crédulo seguidor de horóscopos, mapas astrais e rezas que intercedam pelo fim da queda de cabelo (até porque dá-se o caso de o meu cabelo ser tão forte e espesso, que a senhora romena que mo costuma aparar é obrigada a socorrer-se da tesoura corta-arame do jardim para levar a bom porto a sua esforçada missão. Ou então tem a ver com os meus hábitos de higiene capilar, não vem ao caso agora.).

A verdade é que os signos não servem para nada. São demasiado vagos. Dizem-me:
“Dinheiro: Semana em que deve ter cuidado com a sua vida financeira. Saúde: Evite cometer excessos. Amor: Aprenderá a dar valor aos que ama.” Obrigadinho!

Ser-me-iam verdadeiramente úteis caso especificassem. A exemplo:
“Dinheiro: Na quarta-feira o seu sócio fugirá para o Brasil com todo o dinheiro da Segurança Social. Saúde: A sua médica de família está caídinha por si. Amor: O homem do talho anda de olho na sua namorada.” Isto sim! Seria uma ajuda! Na segunda-feira levantaria todo o dinheiro da conta da empresa, marcava uma consulta com carácter de urgência para a médica de família e encomendava carne para todo o trimestre no site do Continente.

Quando chegarem a este nível de precisão, contem com este vosso dedicado cliente. Até lá, se não vos causar embaraço, abdico do meu signo e vou gastar de outro lado. Pode bem acontecer que experimente o Budismo. Evito perguntas parvas, dá sempre um bom motivo de conversa no Bairro Alto e, com sorte, ainda apanho a campanha de novos clientes que dá direito a 1 jogo de facas de cozinha. Ficarei com o Budismo, ou com a Herbalife, dependerá das promoções que tenham na altura.

Afectuosamente Vosso,

RicardoV