Luta pela conquista do Sábado leva imprensa tuga à loucura

O "Sol" quando nasce,
nasce para todos!

O "Sol" já nasceu. Amparado pela mão experiente do parteiro José António Saraiva, que ainda há bem pouco tempo dirigia a Maternidade noticiosa do "Expresso" onde deram à luz numerosas manchetes que encobriam toneladas de papel e interesses recônditos, nomeadamente os do poderoso lobby dos criadores de periquitos, que o agraciaram com o prestigiado prémio de "O único jornal do Mundo com um numero de páginas por edição suficiente para forrar sete gaiolas durante dois anos".

Na resposta o novo director do "Expresso" oferece um Dvd por edição, alterou o grafismo, baixou o preço, deixou de ser tão volumoso e pesado como o Fernando Mendes, adoptando um estilo mais José Carlos Malato e fez uma campanha publicitária nos intervalos do "Preço Certo em euros" só para chatear o Saraiva e pô-lo a fazer contas à vida.

O "Publico", sempre atento, passou o suplemento humorístico "Inimigo Publico" das 6as feiras para os Sábados, deixando de ser apelidado carinhosamente como " O Jornal mais chato que a potassa excepto o suplemento do Inimigo às 6as" para se classificar como "O Jornal mais chato que a potassa excepto o suplemento do Inimigo aos Sábados". Para alem disso, tendo em conta que há lá mais jornalistas e cronistas que mafiosos e analfabetos no futebol português, decidiram mandar 50 jornalistas para a rua. Pode ser que assim aquilo vá…

O DN entrou com toda a pujança na luta pela sedução do leitor e está a oferecer medalhas, às quais chamam moedas embora não tenham valor comercial, nem sejam classificadas como tal pela Casa da Moeda, que já os chamou à atenção publicamente para este factos. As medalhas (ou moedas, se este texto fosse publicado no DN) trazem cunhadas na face os bustos de grandes celebridades portuguesas, maioritariamente dos secs. XII e XIII e, salvo honrosas excepções, de quem nunca ninguém ouviu falar (uma espécie de "Circo de Celebridades da Idade Média"). Ou seja, estamos a falar de moedas que não são moedas, com o busto de celebridades que não são celebridades. Na prática faz tanto sentido como oferecer uma semana de férias com tudo pago no sul do Líbano para toda a família.

O CM vai ter mais suplementos ao Sábado. O grande destaque vai para o suplemento social/light/cor-de-rosa "Correio da Manhã - Vidas" com tudo sobre os famosos. Este suplemento divide-se em 3 partes distintas:
* "Coisas que as fontes nos disseram sobre os famosos"
* "Coisas que os famosos disseram às fontes para nos dizerem sobre eles"
* "Coisas que as fontes nos disseram sobre pessoas que não são famosas mas gostavam de ser"

Prevê-se agora a resposta do "24 Horas" com a mudança do seu aspecto gráfico, nomeadamente trocando as poucas letras que ainda tem por fotografias de jovens moças em trajes menores que escrevem sobre assuntos prementes da actualidade como as festas do "Sasha Summer Sessions", os reflexos da crise do Líbano na produção dos iogurtes com L. Casei Imunitass e a contribuição das alforrecas da praia de Montegordo na dieta das pessoas que gostavam de ser anoréxicas . Haverá novidades na habitual oferta de quinquilharia essencial para um quotidiano mais feliz a que já nos habituaram com a compra de cada exemplar. Com a edição de Sábado o leitor terá direito a uma Sra. de Fátima em tamanho real esculpida em bronze, 1 baralho de "Tarot" assinado pela Maya com o Professor Bambo todo nu impresso no verso e uma caneca tipíca das Caldas com uma frase diferente todas as semanas da autoria dessa genial dupla de criativos Badaró/Camilo de Oliveira.

Segundo os analistas esta concorrência feroz vai ter dois resultados distintos. Por um lado é certo que terá tanto efeito no incremento da qualidade da informação jornalística em Portugal como o 605 Forte tem na regulação do sistema digestivo. Por outro lado, o facto de os jornais virem cheios de “bugigangas” tira tempo para a leitura efectiva do mesmo, o que contribui indubitavelmente para uma opinião pública mais independente e pensante.
A este ritmo de evolução prevê-se que, ora em diante, cada vez que os meios de comunicação queiram servir sub-repticiamente o lobby político, económico ou religioso que os sustenta, deixem de mascarar a informação sob forma de notícia ou artigo de opinião. Passarão a utilizar a técnica que Valentim Loureiro notabilizou nas eleições para a Câmara de Gondomar, ou seja, oferta directa e descarada de merchandising. Num futuro próximo poderemos ver redacções a embalar Kits do Noddy , amostras grátis de pensos “Evax ultra-finos”e os mais variados electrodomésticos com o logotipo dos respectivos patronos.

(N.A.: É por estas e outras que ainda acabo a minha carreira a escrever para “O Crime” e, caso também eles optem pela estratégia enchouriçada da maior parte da imprensa portuguesa, serei obrigado a embalar revólveres Magnum 44, espingardas Beretta e Granadas de mão para oferecer aos leitores com o símbolo da “Funerária Santinhos Unipessoal, Lda”.
Pensando melhor, entre embalar e escrever fico na duvida de qual me garantiria mais prestígio e sanidade mental. Para alem de que seria impensável eles convidarem-me. Parece que naquela redacção só podem entrar "jornalistas" sem carteira).